quinta-feira, 19 de junho de 2014

Dois anos a (re)aprender a ser Pai

Há 2 anos nasceu a Teresa. Sem rodeios, sem máscaras, sem falsidades, não tenho nenhum problema em dizer que o início foi difícil e não correu bem.

Há 2 anos, a Rita e o Zico já eram autónomos. A Marta e eu tínhamos já passado a fase mais "intensa" de ser Pais. Era como se já tivéssemos a nossa vida de volta. Mas decidimos ter mais um filho.

No dia 19 de Junho de 2012, chegou a Teresinha. Fomos tranquilos para o Hospital. Afinal, era o 3º filho, já sabíamos tudo. Nada me preparou para o que aí vinha. Género, Selecção Nacional a entrar em campo contra a Alemanha, peito feito, não é preciso correr, somos os maiores. Levamos 4 secos! Uma lição. A Teresa dá-me várias, todos os dias.

Foi o único parto a que assisti. Foi o único filho que tive com o qual não passei todos os dias na maternidade, tendo sido substituído pela minha cunhada Rita durante uma noite. Foi também a primeira vez que não dei o primeiro banho, não mudei a primeira fralda. Foi, assim, claro que a Teresa chegava e as coisas seriam diferentes. E foram.

O Verão foi óptimo. A Marta esteve sempre connosco na Areia Branca. A Teresa, essa, fez logo questão de mostrar ao que vinha: pulmões bem abertos, vontade firme de se afirmar no meio de muita gente. E mais não largou essa sua vontade. Lembro-me bem, logo bebé, de dizer à minha Mãe que a Teresinha era diferente, era um bebé mais exigente e ia dar mais trabalho que os outros. Dito e feito.

De volta de férias, com trabalho, muito pouco sono, cansado, exausto mesmo, entreguei a Teresa nos braços da Marta. Literalmente. A Teresa passou o Inverno no colo da Mãe. Ainda bebé, ficou doente, a arder em febre, a Marta esteve umas boas 72 horas com a Teresa no colo. Sem exageros.

São destes pequenos pormenores que se constrói uma relação. Não é por acaso o amor, a adoração que a Teresa tem com a Mãe, algo que a Rita e o Zico, nesta idade, não tinham. É uma relação muito diferente. E assim foi até terminar a licença da Marta.

Faço todo este preâmbulo porque nem tudo são rosas no nascimento de um filho. Nem sempre as coisas correm bem. Nem sempre estamos disponíveis. Com a Teresinha, eu não estive. A cabeça não estava disponível, o corpo não estava preparado e quebrou.

No Natal de 2012, a Marta volta ao trabalho. Decidi que ficaria uma manhã, por semana, em casa com a Teresinha. Estaria, assim, mais tempo com ela, a transição seria mais suave. É assim que nascem as 4ª feiras. Não me perguntem como nem porquê. Ninguém me pediu. Ninguém me obrigou. Ninguém me sugeriu. Achei que era essa a minha missão. Tinha assumido a missão de ser Pai em 2004, quando a Rita nasceu, não seria agora que iria desistir.

Hoje, passado 1 ano e meio, não concebo a minha vida sem a Teresinha. É rabugenta, desobediente, mal-encarada, exigente, mandona, acha que tem direito a tudo, grita por qualquer coisa. Mas é um doce. E ensinou-me muitas e muitas coisas novas.

Ainda a semana passada, por qualquer razão, a Marta olha para mim e diz-me: «Já não te conheço como Pai!». A Teresa teve esse dom (sim, é um dom): de me mostrar que não há coisas certas no Mundo e que temos de nos adaptar. Somos todos diferentes e exigimos coisas diferentes dos outros. E nós devemos ter essa capacidade de adaptação. Não é fácil.

Com a Teresa aprendi a ser mais condescendente, menos exigente, a relevar certas coisas, a deixá-la ser como é. Tento não lhe diminuir a sua vincada personalidade. Mas sempre, sempre mostrando que sou o Pai, que há limites. Não lhe dou tudo o quer, não lhe faço todas as vontades. Mas dou-lhe muito mais lastro e margem de manobra que dei à Rita e ao Zico.

Todos os dias a Teresa surpreende-me. Dá-me coisas novas. Tem um sorriso lindo, uns caracóis nunca vistos, um abraço que me enche os ombros, um beijo sem igual. Chego a casa e ela corre sempre corredor fora, braços bem abertos, para me receber. Alto e bom som, grita «PAI!!!».

Tenho algumas dificuldades em descrever a Teresa e o que sinto por ela. Como tudo começou e como tudo está agora. É uma grande companheira. Faz-me muita, muita companhia. Passamos muito tempo juntos. Zangamo-nos, rimos, brincamos, passeamos. Dou-lhe muito colo. Dou-lhe muitos beijinhos. Aperto-a!

Enquanto escrevo este post, leio noutro sítio: «Pure love has no conditions or boundaries. Love does not restrain itself or hold back. Love gives all the time and doesn't ask for anything in return. Love is a continuous flow without any limits. And all of this is inside you.» Se calhar é mesmo "só" isso, amor.

Esta é a Teresa. Maria Teresa, para o Pai. Só podia!

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