segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Playstations e Nintendos

Não temos disso lá em casa. Não há playstations, nintendos, wii's, nada de semelhante. Só temos um i-pad, e mesmo esse, não é bem nosso...

O Zico adora jogos electrónicos. De cada vez que vai a casa de algum primo ou amigo que tenha, não larga. Adorar jogar, adora ver jogar. Na verdade, eu sou igual. Sempre gostei de jogar jogos, electrónicos ou não. Investi muitas horas minhas no ZX Spectrum e em PC's. Já casado, deitava-me a altas horas a jogar computador. Deixei-me disso quando nasceu a Rita.

A Marta nunca quis essas coisas lá por casa, eu respeito, e não há. Cada vez me convenço mais que é bom que não haja. Já basta a televisão e o i-pad para cada um estar de olhos agarrados a um device qualquer e não estar a ler, a brincar ou simplesmente a conversar.

Há precisamente 1 ano, ao deitar o Zico, ele diz-me: «Pai, tenho de ter uma PSP ou uma Nintendo. Agora, no 1º ano, às 6ª feiras podemos levar isso para a escola e eu não tenho nada para levar.». Expliquei-lhe que não iria ter nada disso, que não lhe comprava nada. Para além de muito caro, achava que ele não tinha necessidade. Foi uma grande desilusão para ele, porque ele no fundo achava que tinha direito, fazia parte de entrar para o 1º ano da escola. Se todos tinham, ele também teria de ter.

Aqui há dias, vira-se para mim, e diz: «Já sei o que quero nos anos. Quero um MP3 ou MP4.». «Para que é que queres isso?», pergunto eu. «Para levar para a escola às 6ª feiras. Todos têm MP3 ou MP4, ou PSP... eu não tenho nada e tenho vergonha!».

Vergonha... confesso que acertou-me em cheio cá dentro a palavra dita por ele daquela forma. Não vacilei. Expliquei-lhe que não temos de ter vergonha pelo que temos ou o que não temos. Não é o que possuímos que faz o que nós somos e não temos de ter vergonha pelo que somos.

Tenho a certeza que ele não entendeu a mensagem. Acho que não tem sequer idade nem maturidade para isso. Mas nestas alturas, em que duvido sinceramente que a mensagem passa, lembro-me sempre de um conselho que uma pessoa com quem trabalho, mais velha, me deu um dia: nunca desistir de lhes dizer as coisas. Repeti-las até à exaustão. Um dia, há-de entrar.

Hoje em dia, a verdade é que, nós Pais, desistimos facilmente. Damos com facilidade. Tudo para evitar um choro, uma birra, uma desilusão, uma discussão. Facilitamos tudo, protegemo-los de tudo. Não deixamos que os nossos filhos passem por alguma vergonha, alguma tristeza, alguma provação. E eu acho que assim estamos a prepará-los muito mal para a vida.

Lá em casa, não partilhamos disso. Procuramos protegê-los, é certo, mas tentamos não nos "intrometer" nas suas desilusões, nas suas vergonhas, nas suas tristezas. É algo que é bom que aprendam desde cedo porque irão ter muitas durante a vida.

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